quarta-feira, 30 de maio de 2012


DIA DE NAMORAR É HOJE

Mila Ramos
Dia 12 de Junho de todos os anos!
Mas se você não beijar a namorada nesse dia, não der uma flor ou um presente, não fique chateado! Todos os dias é dia dos namorados: de namorar, de amar, de beijar, de fazer um agrado. Se não for assim, você perde a nomorada ou o namorado.
Pergunte aos mais velhos se no tempo deles tinha Dia dos Namorados! No meu, não tinha. Tinha a festa de Santo Antônio, fogueira, roupa caipira (nunca vi um caipira vestido do jeito que a gente ia para essas festas, mas enfim). O negócio era pular fogueira, comer pinhão, dançar shotz e quadrilha com o namorado ou o “pretendido”, mandar bilhetes que seriam guardados eternamente – ( ah! como é curta a eternidade de um adolescente).
Ver a sorte era o grande barato das Festas de Santo Antônio - Dia dos Namorados do comércio atual.
Ah! Se não fosse o comércio.!.. Santo Antônio estaria ainda sendo o mais festejado santo de 12 de Junho, o santo mais requisitado pelas moças em busca de maridos – (nem sei se hoje elas estão tão fixadas de casamentos.
Novenas a Santo Antônio, sino chamando e foguetório após a reza, era a hora de namorar e encontrar o par para sonhar com o véu branco e as flores de laranjeira. E guardar a virgindade para a primeira noite, a lua de mel.
Aviso aos jovens casais de hoje – e aos bem jovens - isso é a história de seus avós. Não há a menor intenção de julgar qualquer comportamento atual, porque a modernidade começou a existir desde Adão e Eva: desde lá, os costumes começaram a mudar e, se seus avós nascessem hoje, eles seriam iguais a toda a garotada de hoje, lutando contra drogas, aproveitando as delícias do mundo da web, ouvindo a barulheira estrondosa do que vocês chamam de música. E namorar “ficando”, ora essa!
Nós não pegamos esse tempo, não!
Quando namorávamos, era só lado a lado, sentando junto no cinema e, escondidinho, dando a mão. E, se a luz acendesse de repente, era uma ligeireza só comparável, hoje, a uma arrancada de Fórmula l.
Dar o braço, era intimidade de noivos.
E “ficar” de camisola do dia, cheia de rendas, com penhoar e calcinha combinando, muito recato e medo, ficar sozinhas com seu amor, era a coroação de um conto de fadas.
O dia dos Namorados vem chegando e é hora de ser feliz.
Poema da autora: NOVENA
...Faz reza forte
ao Santo casamenteiro,
reza nove noveneiros:
Não quero o Pai, quero o Filho, do Dono do armazém .Amém.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Risíveis, como diria Milan Kundera

Quando não choro pelos absurdos do IR e de suas exigências, rio mesmo.
Senão, vejamos:

Posso usar o que paguei para médicos, mas não o que paguei pelos remédios.
E, se não comprar os remédios, morro.
Posso pagar a consulta do oftalmologista, mas não posso descontar o que gasto para fazer os óculos.
Se não fizer os óculos, não enxergo.

 Vou ao médico, pago a consulta e descubro que tenho apneia, pago os exames e guardo a nota para o IR. Até aí, tudo bem!
A gente sabe que tem a doença, mas se não comprar o aparelho ( o PAC, não o da Dilma, claro), pode morrer da tal apnéia. 
Mas a nota fiscal do PAC não pode descontar no IR. Morra, portanto!
A gente não ouve, quase. Vai ao Otorrinolaringologista! Guarda a nota fiscal para o IR. Mas se não tiver como comprar o aparelho auditivo, continua surdo, porque o IR não permite o desconto da nota, valor do aparelho auditivo!

Afinal, para o Governo, o que é saúde?
É correr de médico em médico só para ter certeza de que está doente? Isto ninguém precisa dizer, nós sabemos.
Saúde é viver bem. Não basta saber que nosso mal foi diagnosticado. Precisamos do aparelho para ouvir, dos remédios para sarar, dos óculos para ver, etc, etc.

Mas o desconto do IR, não mesmo .
Que dói, dói!
Pagar ao governo quase 30% do que se ganha, fora todos os impostos embutidos em todos os tostões que gastamos nas lojas, no supermercado, na quitanda, na farmácia, no posto de gasolina e no custo do carro e suas taxas, dói! Dói muito!

É a doença mais grave da qual o povo brasileiro sofre.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A LACUNA, Barbara Kingsolver

Comprei o livro porque li, na orelha, as recomendações do Washington Post, do New Yorker, do Times Book Review: " Espetacular... fascinante... Kingsolver dá voz a verdades que o narrador só poderia expressar em silêncio.".

Isso é tudo o que o leitor busca numa livraria!

Mas as primeiras 80 ou 90 páginas me decepcionaram. Narrado em forma de cartas, trechos de jornais e até de diário, o leitor é levado a encontrar Shepherd, a personagem que conta a história, no lugar de Bárbara Kingsolver, a autora. Uma leitura seca, desinteressante mesmo. Sem sentido até o leitor descobrir que se trata de uma história real, em que Frida Hahlo (a pintora mexicana feia e famosa por sua vida sexual) e o marido recebem  Leon Trotski, o refugiado russo, na Cidade do México. Aí o livro revela os bastidores de Shepherd e sua atuação na trama da salvaguarda do revoltoso russo e a sequência de sua vida nos Estados Unidos, revelando uma época duvidosa da história daquele país.

Um livro surpreendente. Ainda estou lendo, mas já senti que o futuro de Shepherd é seguir, ainda, por uma caminhada espinhosa. 

Aguardemos o final, mas podem comprar o livro, vale a pena.

Maria Sem Vergonha







                                                                    MARIA-SEM-VERGONHA


                                                              Maria-sem-vergonha de nascer...
                                                              Maria-sem-vergonha de florir...
                                                              Maria-sem-vergonha de se dar...
                                                              em qualquer tempo,
                                                              em qualquer lugar,
                                                             Maria-sem-vergonha de murchar...
                                                             Mila Ramos

Vermelho





01/05/2012

RED
It’s not the sunset,
Nor the flags, neither the rare rubies.          
            This red
            Is the torn vein
            In the deep sea:
            It’s whale blood!
From a round whale
The first ballerina in the aquatic ballet
-        Floating cheerleader-
Acrobatic girl
“Saltimbanco”.

Turns and dances through the stages of the seas,
Obese and naked star,
In exotic
Provocative, sensual  moves.
Naïve creature!
You don’t suspect that the eye that spies on you
Has nothing of passion.
It is the insane human whaler
And this red that surges
And leaves  the sea  tainted
Has nothing to do with the cupid arrow:
It is a harpoon, ballerina!
…. the one before the last tail, the wave…
….the one before the last show of the seas,
Red from the blood and from the shame,
A nameless man closes the curtain…
Mila Ramos
                                                                      
translated by Esther Vieira,  do poema VERMELHO, publicado em meu livro NA GRANDE NOITE DOS GIRASSÓIS, Ed. Ipê, Joinville,SC.1998.
Texto original abaixo.


VERMELHO

Não é de pôr-do-sol,
nem de bandeiras, nem de raros rubis.
          Este vermelho é de rasgada veia
          no profundo do mar:
          é sangue de baleia!
De baleia roliça,
primeira bailarina do balé aquático
-baliza flutuante-
acobata menina, saltimbanco.

           Volteia e dança pelos palco dos mares,
           estrela obesa e nua,
           em contorções exóticas,
           provocantes, sensuais.

-Ingênua criatura!
Nem suspeita que o olho que a espreita
nada tem de paixão.
É de  insano humano baleeiro.
E este vermelho que surge
e deixa o mar tingido,
nada tem de flechada de cupido:

_ É arpão, bailarina!

... da penúltima cauda, o abano,
... do penúltimo espetáculo dos mares,
vermelho de sangue e de vergonha,
um homem sem nome, fecha o pano...
                              
                                                    Mila Ramos

Abril Amargo




              Mila Ramos
 Os meses estão marcados pelos acontecimentos, sejam eles muito bons ou muito ruins para todos ou só para nós, nesse particular doído que, no fundo, todos nós temos.
Temos o agosto/desgosto de tristezas políticas, setembro/negro de terrorismo e dor e de alegrias históricas para o Brasil. Maio, mês de Maria e de Mães, noivas felizes e infelizes, dezembro do Natal, janeiro de fé e de esperança, meses e meses, até abril de cada ano, o mês do Leão!
Esse é meu abril amargo!
E de muitos brasileiros sérios e trabalhadores, uns mais, outros menos, mas todos fazendo uma força danada para juntar papéis, notas, comprovantes de tostões gastos com as despesas que a Receita aceita como desculpa para não cobrar mais, mas sempre assustando-nos com aquela malfadada malha fina...
“-Olha! Isso não pode!”
E lá vamos nós refazer as contas, somar, diminuir, dividir tudo outra vez ( multiplicar não pode!) grampear recibos, procurar de lupa para poder enxergar, no recibo do plano de saúde, quanto custaram nossas dores  e opções de males  dos quais nos prometem proteção, mesmo daqueles dos quais jamais sofreremos, graças a Deus! Segurança ou mau agouro? Sei lá, só sei que pago!
O recibo do dentista fica sempre menor do que precisávamos e arrependemo-nos de ter pedido aquele descontinho danado, que agora faz falta! E o salário da doméstica, mas só de uma e só dos doze por cento que o INSS já levou, faz tempo.
Minha poupança, agora, virou patrimônio do Leão: guardo o que posso para ele ou faço mais uma prestação, a do  Leão! (sic)
- Fazer o quê?
Se do que eu ganho, quase trinta por cento é dele, mais o dia-a-dia...Viver custa caro!
E o Rei Leão?
Ah! Ele sai pela mata afora brincando com os pobres bichos e lambendo-se todo pela alegria de ser dono da festa, de distribuir as sementes e a água dos rios, de matar a fome dos filhotes de cada ninho da floresta.
Desde que o leão passou a temperar meu abril com o amargo de impostos absurdamente elevados e mal aproveitados, eu descobri que o dinheiro era meu só de  mentirinha...