Escrevo para Dia dos PAIS.
Há, dentro de mim, um lugar separado,
à espera desse amor paternal que não conheci, a não ser de ouvir falar.
Sempre tive inveja de quem tinha
pai: o meu só existe numa foto antiga, vestido de marinheiro - era Mestre de barco
- sério e parecendo-me um homem muito bonito, com quem meu irmão se parece.
E, neste Dia dos Pais, queria
ouvir a sua voz – a que não foi ouvida- e a de todos os pais.
Ouvir falar dos teus olhos
quando teu filho erra e a censura vem num sobrolho carregado, severo, grave.
Quero sentir tuas mãos a
segurar-me firme nos primeiros passos e a apontar-me o caminho melhor, o mais
reto, o mais ameno.
Hoje, quero ouvir todas as vozes
que sempre quis ouvir, a voz do amor no abraço afetuoso ou no ritmo inquieto da
bronca, a voz da advertência quando me passas as chaves do carro e me dizes:
cuidado!
A mesma voz que discute comigo
na pelada ou no jogo da TV, é a que gargalha no orgulhoso estufar de peito
pelas minhas vitórias
Quero, hoje, Pai, ouvir a voz de
todos os teus gestos, dos teus silêncios...
Quem sabe, do ronco
relaxado do teu sono no sofá da sala, em tardes de sábado?
E, se não puder ouvir-te a voz,
faz-me sentir, por Deus, o teu amor por mim.
Quem és
a voar nos meus lamentos,
-meus momentos-
-meus momentos-
em vôo azul, leve, rasante...
- Quem és, pousado em mim?
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