A mulher mundo parou rente à calçada:
a pele seca, sedenta a garganta
e a alma.
A mão, mostrando a palma,
era o gesto da dor.
O vestido (era vestido?)
tão surrado, tão sujo, arrebentado na barra.
O filho, a cria do silêncio,
do abandono,
filho de cão sem dono,
era quem puxava a saia feito rédea.
Era a mãe - mãe ou potranca –
carregando à anca
A mulher mundo recebeu moedas,
recebeu afagos, xingações:
-Vá trabalhar, vagabunda!
O mundo é de quem se vira.
E ela se virou.
O filho, a FEBEN levou,
A mulher mundo aparou esmolas,
resmungou sem nexo,
barganhou o sexo,
suspirou na rua,
descompôs a lua,
esgravatou no lixo,
espremeu o corpo,
esganiçou,
berrou,
ganiu,
gemeu.
-Mais um filho da puta que nasceu!
O mundo,
a mãe, o filho,
a fome,
a mão,
calçada,
vida mal-amada,
boca escancarada,
nosso mundo.
.............................................
Mila Ramos Fotos colhidas no Google
.............................................
Mila Ramos Fotos colhidas no Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário