terça-feira, 30 de outubro de 2012

MULHER MUNDO



A mulher mundo parou rente à calçada:

a pele seca, sedenta a garganta

e a alma.

A mão, mostrando a palma,

era o gesto da dor.

O vestido (era vestido?)

tão surrado, tão sujo, arrebentado na barra.

 

O filho, a cria do silêncio,

do abandono,

filho de cão sem dono,

era quem puxava a saia feito rédea.

Era a mãe - mãe ou potranca –

                                                             carregando à anca

                                                            outro filho sem pai?

 

A mulher mundo recebeu moedas,

recebeu afagos, xingações:

-Vá trabalhar, vagabunda!

O mundo é de quem se vira.

 

E ela se virou.

O filho, a FEBEN levou,

a mãe, outro macho emprenhou.
 

 

A mulher mundo aparou esmolas,

resmungou sem nexo,

barganhou o sexo,

suspirou na rua,

descompôs a lua,

esgravatou no lixo,

espremeu o corpo,

esganiçou,

 berrou,

ganiu,

gemeu.

-Mais um filho da puta que nasceu!

 

O mundo,
 
a mãe, o filho,

a fome,
 
a mão,
 
calçada,

vida mal-amada,

boca escancarada,

nosso mundo.
.............................................
Mila Ramos                                                           Fotos colhidas no Google

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