terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

DEPOIS, PODE ORAR



                                                                  Crônica de Donald Malschitzky
                                  

Nos pouco mais de 10 minutos em que o carro esteve junto à bomba, uma quantidade razoável de papéis de bala e outros lixos se acumularam no chão, jogados pela janela. Na traseira, um adesivo de um terço emoldurando a Virgem Maria. O carro se foi com sua tatuagem. O lixo ficou.
         Vestidas com aquelas roupas bem características de adeptas, uma fica na fila do supermercado enquanto a outra faz compras e as traz até o carrinho. Ganham tempo e sem-vergonhice!
         O motorista da frente para afim de dar passagem ao casal na faixa de pedestre. A buzinada estridente, vinda do carro de trás, mostra que alguém não gostou do ato de respeito. Ultrapassa cantando os pneus e dá  um “adeusinho” com o dedo levantado. No vidro traseiro: “Propriedade de Jesus”.
         Bate palmas, pede licença para conversar e procura fazer uma lavagem cerebral, impondo suas interpretações literais e radicais. Insinua a presença de outros seres porque há discordância de suas posições ignorantes (ignorante é quem ignora).
         Quase não abre a boca, mas, quando o faz, culpa o governo e os outros de todas as dificuldades. Satiriza quem lava o lixo reciclável por causa da água que gasta. Afirma lavar a caminhonete ao menos uma vez por semana. Por pagar a taxa de água, tem o direito de gastar quanto quiser. Mistura todo lixo, pois paga impostos e isso é problema do governo. Se diz católico, de ir à Missa.
         Faz uma ultrapassagem absolutamente maluca, por muito pouco não passa por cima de um carro menor. Buzina e ri. Nos apara-barros: “Dirigido por mim, guiado por Deus”.
         Diz que Deus criou tudo e todos, mas apenas os machos e as fêmeas são filhos de Deus.
         O aluno acerta todas as questões da prova. Recebe 9, pois “10 é só para Deus”.
         Hipócritas! Sepulcros caiados! Dispam-se de suas hipocrisias, de seus preconceitos rançosos, de seu exibicionismo ridículo, de sua soberba risível, de seu desrespeito assustador. Voltem-se para a verdade, cubram-se de vergonha, peçam desculpas, perdão, seja o que for. Recomecem do nada para chegarem mais perto do que os hipócritas são. Depois, se quiserem, orem, rezem – podem chamar de que quiser, não fará diferença -, mas em silêncio, por favor.        

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