quinta-feira, 11 de julho de 2013

NÃO SOU MÉDICA

 

Mila Ramos

Sou professora . Quando me formei, não se ouvia dizer que faltassem professores para escolas do interior, porque quem sabia ler e escrever ensinava seus filhos e, mesmo sem diplomas, um professor era contratado porque para ensinar a ler e a escrever , basta saber e querer.

Hoje, o interior do Brasil, é muito mais! Nas casas mais simples, TV, computador,rádio e celular com internet é rotina. Soube, outro dia, que existe um lugar distante, no Brasil, onde as pessoas não sabem quem é Pelé, Dilma, Lula, Roberto Carlos, Sílvio Santos, cantores caipiras e ou sertanejos... Vivem no Brasil de um século atrás, mas isso é tão raro que foi notícia do Fantástico. Isso significa que dá para viver sem tudo isso.

Sem médico,não.

Sem médico que lhes salve a vida, de uma infecção, de febre alta, de uma mordida de cobra, de um parto difícil, da própria malária, isso não tem, não! Como se salvaram nossos avós? Eles morriam cedo. Quando muito, chegando aos cinquenta ou sessenta anos. A percentagem de mortalidade infantil era altíssima. Já adultos, morriam de “quebranto”, “arca-caída”. De pneumonia, apendicite, úlceras estomacais, febres de causas “desconhecidas”, sarampo, catapora, tosse comprida etc, etc, essas doenças que, hoje, os médicos curam com uma receita simples.

Mas os médicos precisam estar lá. Lá, onde a doença também está: no interior do Brasil.

Mas eles não querem ou não podem ir. A especialização (tão necessária também) é feita nos grandes hospitais das grandes capitais.

Essa é a grande discussão do momento: médicos no interior. Quem vai? Quem pode ir? Médicos contratados no exterior ou os chamados médicos cubanos estão sendo rechaçados pelos nossos profissionais, numa luta da classe.

Eu escolho, tenho plano de saúde, médicos amigos. Eu tenho sempre os melhores médicos daqui, nas áreas em que sou carente, graças a Deus.

Mas como resolver o impasse dos mais necessitados?

E médicos nos Postos de Saúde de Joinville, a maior cidade de Santa Catarina? Sua população está beirando, se já não passou, os 500 mil habitantes, no último recenseamento.

Quantos médicos temos? É suficiente? Quantos médicos precisamos, segundo a Associação Mundial de Medicina?

Professor, tem. Médico, não. Médico precisa muito mais do que o necessário para ensinar a ler e escrever. Certo! Certíssimo!

Muitas perguntas para fazer: Como pode um Prefeito resolver um problema de falta de profissionais nos quadros de sua administração? Onde procurá-los? E o Governador do Estado? E a Presidente do país?

A pessoa que trabalha comigo, em casa, está há um mês chorando de dor de estômago. Melhora com dieta, chás, mas daí a algumas horas, dói outra vez? Por que dói? Não sei, acho que ela precisa de médico, de exames. Aonde ir? No bairro COMASA onde mora, ela já foi cinco vezes na quinta e na sexta-feira , dias 4 e 5 deste mês. Não conseguiu ficha para pleitear consulta com um médico clínico, quiçá, com gastro. Fazer o que?

Deixar de trabalhar, de comer e de dormir - porque ali o “expediente” dos necessitados começa à meia noite! Ela esteve lá e , às 7h da manhã, ouviu a atendente dizer que as fichas (só duas, no caso para o Clínico Geral, que diria se ela precisa de gastro ou não) . Quando conseguir a consulta do postinho, ela precisa de exame do Gastro e a novela é outra: o Clínico dá uma requisição para o INSS carimbar, depois de ir ao INSS, a paciente liga para o consultório do médico autorizado e pede a consulta, que será marcada por ele, para daí a 20, 30, 40 dias, quem sabe, até um ano depois. Há pessoas que estão, , esperando por uma cirurgia há um ano.

E a dor de estômago? Ela paga imposto IPTU, luz, água, taxa de lixo, paga INSS e ainda os impostos embutidos nos produtos que compra para alimentação, como aliás, todos nós. Em qualquer país sério ela teria um tratamento de saúde digno de um ser humano.

No Postinho, está dificil encontrar saúde.

Se o médico vai. os exames e as consultas especiais são feitas pelo INSS e demora...

Trazer médico do “exterior”, sem revalidar sua capacidade, que garantia tem o necessitado de que ele sabe o que está fazendo?

E a dor continua...

Hoje ela ligou, para o Postinho e a problema continua...

Falta médico e postinho onde ela possa fazer exames e consultar com um gastro, com urgência, porque ela e mais uma população inteira está sentindo dor.

O que fazer?

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