Donald Malshinsky
Por que existe a cultura de não debater política em casa, na escola, em organizações? Será que é histórico, no nosso caso, devido à herança da colonização, em que o cidadão não tinha voz, nem voto, nem vez e nem o direito de ser cidadão, privilégio dos apadrinhados por Portugal? Será que nossos regimes de governo, centristas, cheios de bastidores, mentirosos, paternalistas, obtusos e obscuros, quer se chamassem Colônia, Reino Unido, Império, República, ditadura disfarçada ou ditadura explícita, induziram a uma apatia burra e subserviente, sacralizando ou demonizando a palavra e os atos denominados por ela?
Medo, omissão, ignorância, incapacidade, o que faz com que se debata tão pouco a política a ponto de ser necessária uma comoção social para que ela volte a tona e readquira seu lugar, ao menos, nos bares?
"É proibido falar em política" poderia ser o conteúdo de placas espalhadas com mais generosidade do que as de "É proibido fumar", com medo de que o debate provoque mais mal do que o consumo do cigarro.
Bertold Brecht já alertou para o perigo: " O analfabeto político é tão burro que estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil, que, da sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista...".
A palavra vem de "pólis" (cidade) e isso já deveria bastar para fazer-nos a todos responsáveis por sua lisura, até porque não existe ato que não nos envolva nela; de comprar uma bala a vender um avião, andar na rua, ouvir o barulho das buzinas, passear no parque, escolher nossas leituras ou nossa religião e educar os filhos. Tudo é determinado, em maior ou menor grau, pela política. Negar-se a debatê-la não é neutralidade, é covardia e, em muitos casos, insanidade.
O presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil distribuiu uma carta muito esclarecedora sobre as manifestações, dando um norte para as ações dos cidadãos. Mereceria ser lida e debatida em todos os templos, não apenas os luteranos, mas a miopia humana não permitiria isso, pena. Um dos trechos é lapidar: "Apostemos mais no diálogo. Não percamos a oportunidade de novamente discutir temas políticos em nossas casas! Comecemos pela família. Com os pais, com os filhos."
Está na hora de começar.
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