Com certeza, comungo com o autor desta página, meu amigo desde os tempos de faculdade, quando eu já era casada e com filhos adolescentes e ele estava no melhor de sua juventude. Inteligente , bom aluno, tímido por natureza, gente muito boa. Ocupa uma coluna do Notícias do Dia, uma excelente coluna, hoje falando deste nosso inverno atípico.
Mila Ramos
Hilton Görresen
Não
sinto muita simpatia pelo inverno. Se ele fosse uma pessoa, me recusaria a
sentar na mesma mesa. Talvez seja porque sou apaixonado pelas estações médias,
outono e primavera, nessa ordem. Tenho uma forte relação psicológica com essas
estações, coisa do tempo de menino.
A primavera começava, nos tempos de escola, com a cerimônia de plantar
uma árvore. A temperatura era sempre fresca, agradável, parecia que
respirávamos liberdade. As árvores eram parceiras nas explorações de íntimas
florestas.
O outono, para mim, é um
tempo mítico, atemporal, feito de gostos, cheiros, lugares e ventos. Um tempo
no inconsciente (como é difícil expressar essas coisas intangíveis, que ficam
impregnadas na gente).
Tempo frio não é bom para
caminhar: o choque térmico da friagem externa com o aquecimento do corpo pode
provocar comichão. E comichão, além de incomodar, é uma das palavras que
constam da minha relação das mais feias da língua.
Mas não vou deixar que
minhas preferências estraguem a alegria daqueles que vieram de longe para
apreciar o inusitado inverno do sul. Daqueles que se submetem ao frio para ver
nossa surpreendente neve europeia. Daqueles que esperam um friozinho para
poderem dormir debaixo de três cobertores, para degustar um vinho ou um
chocolate quente.
Não. Devo dizer que tempo
frio tem suas vantagens. Podemos tirar do armário os pesados casacos, as luvas
e toucas. E as mulheres são mais bonitas no inverno, com seus casacos e
botinhas. No inverno não existe mulher feia.
Não houve jeito, tive de
tirar do baú um comprido casaco, adquirido num impulso consumista e nunca antes
usado. Tenho o costume de comprar as coisas e viver esperando a melhor ocasião
para usá-las. Tenho calças, camisas e sapatos há anos mofando em meu
guarda-roupa. Livros para ler até os
anos 2050, se até lá estiver vivo. CDs aguardando que uma nova tecnologia os
torne ultrapassados.
O citado casaco já não era
tão folgado como no tempo em que o comprei. Casacos têm essa estranha mania de
irem se estreitando em torno de nosso peito e abdome, a ponto de algumas vezes
não conseguirmos mais abotoá-los. Mas com um frio desses, de rachar paredes,
quem vai discutir com um casaco excêntrico?
Não pretendo frustrar
aqueles que adoram esta época de muita roupa e de mãos geladas, mas atenção: o
inverno em Joinville não dura mais de uma semana. Quem sabe já tenha terminado
quando você estiver lendo esta crônica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário