sábado, 3 de agosto de 2013

UM INVERNO INUSITADO


Com certeza, comungo com o autor desta página, meu amigo desde os tempos de faculdade, quando eu já era casada e com filhos adolescentes e ele estava no melhor de sua juventude. Inteligente , bom aluno, tímido por natureza, gente muito boa. Ocupa uma coluna do Notícias do Dia, uma excelente coluna, hoje  falando deste nosso inverno atípico.
Mila Ramos
 

Hilton Görresen

 

            Não sinto muita simpatia pelo inverno. Se ele fosse uma pessoa, me recusaria a sentar na mesma mesa. Talvez seja porque sou apaixonado pelas estações médias, outono e primavera, nessa ordem. Tenho uma forte relação psicológica com essas estações, coisa do tempo de menino.

       A primavera começava, nos tempos de escola, com a cerimônia de plantar uma árvore. A temperatura era sempre fresca, agradável, parecia que respirávamos liberdade. As árvores eram parceiras nas explorações de íntimas florestas.

O outono, para mim, é um tempo mítico, atemporal, feito de gostos, cheiros, lugares e ventos. Um tempo no inconsciente (como é difícil expressar essas coisas intangíveis, que ficam impregnadas na gente).

Tempo frio não é bom para caminhar: o choque térmico da friagem externa com o aquecimento do corpo pode provocar comichão. E comichão, além de incomodar, é uma das palavras que constam da minha relação das mais feias da língua.

Mas não vou deixar que minhas preferências estraguem a alegria daqueles que vieram de longe para apreciar o inusitado inverno do sul. Daqueles que se submetem ao frio para ver nossa surpreendente neve europeia. Daqueles que esperam um friozinho para poderem dormir debaixo de três cobertores, para degustar um vinho ou um chocolate quente.

Não. Devo dizer que tempo frio tem suas vantagens. Podemos tirar do armário os pesados casacos, as luvas e toucas. E as mulheres são mais bonitas no inverno, com seus casacos e botinhas. No inverno não existe mulher feia.

Não houve jeito, tive de tirar do baú um comprido casaco, adquirido num impulso consumista e nunca antes usado. Tenho o costume de comprar as coisas e viver esperando a melhor ocasião para usá-las. Tenho calças, camisas e sapatos há anos mofando em meu guarda-roupa.  Livros para ler até os anos 2050, se até lá estiver vivo. CDs aguardando que uma nova tecnologia os torne ultrapassados.

O citado casaco já não era tão folgado como no tempo em que o comprei. Casacos têm essa estranha mania de irem se estreitando em torno de nosso peito e abdome, a ponto de algumas vezes não conseguirmos mais abotoá-los. Mas com um frio desses, de rachar paredes, quem vai discutir com um casaco excêntrico?

Não pretendo frustrar aqueles que adoram esta época de muita roupa e de mãos geladas, mas atenção: o inverno em Joinville não dura mais de uma semana. Quem sabe já tenha terminado quando você estiver lendo esta crônica.

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