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( Imagem colhida no Google) |
Mila Ramos
Nada balança.
O ar emudeceu na noite longa.
A vida amontoou-se na sarjeta,
ao longo das estradas
e ressona um eco surdo no meu peito.
Nada cintila
no meu mundo sem jeito.
Luz apagada,
gata estirada
no sono sem cansaço, sem razão.
E o negro cão late lá fora,
late perdido no segredo escondido
dentro de mim.
- Como te chamas, silêncio?
Surdo, cego, sem cor, sentidos mortos,
desejo amordaçado pelas nesgas de luz
que o farol apressado
atira na vidraça
dos tabus da alma.
- Teu nome é calma?
Não! Teu nome não tem som,
tem um zumbido desafinado, constante,
triste, tão doído
que me sinto acuada.
- Onde ficaste, voz, que emudeceste?
Deixa-me quebrar-te, silêncio,
num só grito.
agito do meu eu.
Deixa-me buscar-te, sol,
que adormeceste cedo...
Tenho medo.
Medo do escuro,
medo do mundo mudo,
dos sons que não virão,
porque já sei quem és,
Solidão.
Publicado em NA GRANDE NOITE DOS GIRASSÓIS, 1987
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