segunda-feira, 25 de novembro de 2013

GOSTO DE MÃOS

  Mila Ramos



Gosto de mãos.
De quem conheço, homem ou mulher, conheço as mãos e, da lembrança de quem já foi em frente, lembro das mãos.
Minha avó Querubina,  falecida há uns 50 anos, lembro das mãos , dos dedos,  especialmente, quando fazia crochê na cadeira de balanço próxima da janela  da sala, que antecedia a selaria de meu avô Pedro. Sua s unhas da mão direita que usava no crochê, tinham ranhuras  e eu as herdei. Suas mãos tinham as manchas escurecias pela idade, que eu também tenho, desde os sessenta... Lembro de quando pegavam suas travessas  para prender os cabelos alourados já com fios brancos  e crespos. Olhos azuis. Era a típica descendente  alemã,  herdeira  de minha bisa  vinda da Alemanha,  aos doze anos. Becker para ficar mais claro, Emily Becker.
Querubina, suas mãos estão na minha lembrança.
 Ela tinha uma empregada, apelidada de Negrinha, por sua cor, é claro. Eu a adorava. Suas mãos gordas com a ponta dos dedos arrebitadas, dava-lhe uma leveza  pianíssima, que estou vendo agora, sessenta anos após.
Minha mãe deu-me suas mãos, como esquecê-las. Estão aqui, como a da vó Querubina, sua mãe, as minhas também estão cheias de marcas senis.

E as mãos da Tia Mariquinha? Lindas e maltratadas da limpeza e da cozinha . Lembro de seus dedos gordinhos, rechonchudos, unhas curtinhas e arrebitadas na ponta. Ela tinha as mãos cor-de-rosa.

Minha primeira professora, Dona Ondina, deixou-me  as suas como lembrança, mãos pequenas, dedos finos e longos, apontavam as letras do alfabeto, que nos fazia decorar. Como a tabuada de dois e de três. As outras ficavam para o segundo ano. Não lembro das mãos de nenhuma professora mais. Nem a de piano.

Da faculdade, os professores não me deixaram suas mãos na memória, exceção às mãos de Celestino Sachet, pequenas e expressivas, dedos de ponta afinada com alguns pelos abaixo do mínimo. Por isso, já sei que não o esquecerei.

Meu marido, ido há uns tempos, tinha suas mãos de palma larga,  dedos que se afinavam , unhas largas como as da Raquel, inesquecíveis.
Inesquecíveis como as dos meus outros filhos, Roberto e Rute, que se  escondidos,  e deixarem de fora só a ponta da unha, eu sei quem é. Ah! Se sei...A Rute tem unhas longas e a Raquel unhas largas, lindíssimas . O Roberto tem as mãos e as unhas do pai. Iguais.
(imagens colhidas no Google)

De mãos e de amor, eu entendo.

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