Donald Malschitzky
Acompanhando as execuções dos hinos nacionais durante os jogos da Copa e vendo as traduções das respectivas letras, fica-se com a impressão de que alguns deles foram escritos por aprendizes de poetas a quem deram um monte de palavras que precisavam usar para compor o hino, tamanha a falta de sentido. Mas a explicação deve ser mais simples: usaram tradutor da Internet e não revisaram coisa alguma.
Talvez entre para o histórico das mancadas da Copa, talvez ninguém se dê conta e fique por isso mesmo, mas o que deveria ficar, ao menos para o observador mais atento, são as mensagens guerreiras presentes em grande número dos hinos. Parece que a ideia de pátria só existe se houver derramamento de sangue, muito sangue e que só com corpos despedaçados se constrói uma nação.
Vejamos trechos dos hinos de alguns países, começando com a nação mais guerreira da história da humanidade, os Estados Unidos: “O clarão vermelho dos foguetes, as bombas explodindo no ar”. Vamos adiante. Portugal: “Às armas, às armas, sobre a terra sobre o mar”; Inglaterra: “Ó Senhor, nosso Deus, venha dispersar seus inimigos, fazê-los cair”; França: “Às armas, cidadão, formai vossos batalhões”; Argentina: “Coroados de glória vivamos, juremos com glória morrer”; Uruguai: “Orientais, a pátria ou a tumba”; Itália: “Estamos prontos para a morte”; Argélia: “O grito da pátria ecoa nos campos de batalha”; Grécia: “Reconheço-te pelo gume do teu temível gládio”; até da pacífica Costa Rica: “Verás teu povo valente e viril, a tosca ferramenta em arma trocar”.
Existem, sim, nações em que o bom senso prevalece, e seus hinos cantam os valores que deveriam guiar a humanidade, como o da Alemanha: “Unidade e justiça e liberdade são o penhor da felicidade” e da Costa do Marfim: “Se temos a paz derivada da liberdade, nosso dever é ser um modelo da esperança prometida à humanidade”.
Os defensores do belicismo poderiam dizer onde anda Roma com suas legiões, cadê o poderio da Inglaterra, para onde foi o mundo de Carlos Magno, de que valeram as conquistas de Napoleão e como ficou o sonho de Hitler. E isso é só o começo.
Pátria é a cultura, o povo, a diversidade com harmonia, a felicidade acessível; o território é apenas um pedaço de pátria e a guerra é sempre um a negação da vida. As famílias que perdem seus filhos que o digam.
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