Mais um bom momento de meu amigo cronista
Donald
Malschitzky
Se fosse mais do que um olhar?
Esbarram-se. No susto, olham-se. Nos olhos. E seguem seus caminhos. Ele ainda se vira em busca de uma razão não do olhar, mas de algo que explicasse a impressão que ficou. “Bonito”, pensa ela. Seguem seus caminhos.
E se ela fosse Diana, guerreira, pronta a lutar todas as batalhas e vencê-las por ele? Seguiriam por céus em busca da suprema luta, a que para sempre sublima os corações.
Quem sabe os olhos de ressaca, igual aos de Capitu, eternamente vítima do ciúme e dos julgamentos decorrentes o embriagassem também e andassem bêbados, rindo do mundo.
Ou seria ela a “Reina” de Neruda, com sua coroa de cristal, pisando em tapetes imaginários, e ouviriam juntos o hino que enche o mundo, mas reservado apenas aos ouvidos dos dois?
Poderia haver mel em seus lábios, como Iracema, desenhados somente para adoçar os dias de acordarem como um para ouvir o amanhecer.
Ou Julieta, perdida de amor e perdendo-se por ele, virando lenda, melhor que Helena, a de Tróia, que também virou lenda e causou guerra.
Mais forte, seria Úrsula, pilar de Macondo, a solitária cidade, ou a mulher sem nome a guiar cegos, como faria com ele, homem, em sua cegueira, que é dos homens.
Poderia ele ser Romeu, jurando e cumprindo, para sempre amá-la.
Capitão Rodrigo, que, depois de morto, ainda amou, mas poderia levá-la para mais longe de toda dor.
Não, Don Juan, não, mas, se tivesse dele o encantamento e de Heitor a bondade e a justiça, talvez nem precisasse da força e da determinação de Hércules para carregá-la nos braços e soprar felicidade em seus cabelos.
No início, ela riria, mas depois, cairia de amores por sua pureza se ele fosse Don Quixote e, por ela, desistisse de Dulcinéia e a ensinasse a enfrentar gigantes disfarçados de moinhos.
Sendo Alexandre, ela o ensinaria a amar em cada encosta conquistada.
E se Sherlock, sagaz e observador, trocaria seu cachimbo por beijos, interrompendo suas investigações somente para pedi-los e saboreá-los.
Poderiam ser tantos, ligados por um encontro, colados por um esbarrão, mas continuam assim, ela simplesmente Maria, ele simplesmente João, em olhares que se perderam no éter sem nunca mais se encontrarem.
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