Vejam a maravilha de visita de um navio alemão, na época, 1905, no porto de Itajaí, quando nem tinha seu hoje moderno equipamento em serviço internacional de cargas. Nossa gente transformaria em "causo" um fato já comum na Alemanha e em outras partes do mundo: a iluminação artificial.
Meu amigo tijucano, João José Leal, e seu excelente estilo narrativo, nos conta um dos acontecimentos fantásticos da antiga Itajai.
Mila Ramos
Caso
Panther - Misteriosas Luzes
jjoseleal@gmail.com
Naquele 17
de novembro de 1905, já passava do meio da tarde quando o cruzador Panther, na
verdade um barco de guerra do tipo canhoneira, havia chegado ao porto de
Itajaí. A cidade estava em festas. A população poderia conhecer a belonave de
apenas quatro anos de uso, com seu casco pintado de branco, deslocando 900
toneladas, 67 metros de cumprimento, canhões Krupp, marca de respeito no
fabrico de armas pesadas e uma tripulação de 121 praças. Sua presença em águas
do Itajaí-Açu, região de gente germânica, ainda hoje se autodenominando de
“vale europeu”, foi suficiente para criar um clima de imensa euforia em Itajaí.
Logo que o
navio atracou, subiu a bordo o Comitê de Recepção, capitaneado pelo brusquense Carlos
Renaux, “em sua farda de coronel da guarda imperial”, juntamente com as
autoridades de Itajaí, entre elas, o superintendente municipal e o juiz de
direito da comarca. O seleto grupo tinha a diplomática missão de dar as boas
vindas, "com os cumprimentos de estylo”,
aos oficiais e marinheiros. E o
fizeram com o sacrifício de beber uma boa taça de champanha.
Enfim,
a noite caiu e o navio se encheu de luzes, espalhadas por todo o convés. De um
fio esticado da proa à popa, passando no alto dos dois mastros, pendiam dezenas
de lâmpadas, iluminando o navio e toda a extensão do cais. Nesse momento, quase
toda a população de Itajaí, cidade que ainda não conhecia o moderno milagre da
energia elétrica, havia tomado conta da área portuária, extasiada a contemplar
a magnífica e luminosa silhueta da canhoneira Panther. Comentários aqui e ali,
diziam que, tanta claridade, luz do dia em plena noite, só podia ser coisa da
engenharia alemã, povo da ordem e do progresso sem lema na bandeira.
Pelas
8 horas, noite entregue ao reino das trevas, os possantes holofotes do cruzador
foram acionados para um espetáculo de cintilantes raios a faiscar, a lampejar nos
céus de Itajaí, assustando aqueles poucos sem curiosidade, sempre existe os que
preferem permanecer em casa. Tomados pelo pânico e pela ignorância, só podiam imaginar
que o fogo dos céus iria incendiar a cidade e logo passaram a rezar para Santa
Bárbara e São Jerônymo, sempre os mais indicados para conjurar o perigo, em
casos de tempestades e trovoadas.
"Houve
ataques e faniquitos e alguém julgou que tinha chegado o fim do mundo",
relata literalmente o Novidades, de 26 de novembro daquele ano. Informa ainda
que, em Brusque, "muita gente diz ter visto os lampejos dos holophotes do
Panther”. Se a notícia é verdadeira, dá para imaginar o tamanho do pânico entre
os brusquenses, naquela noite de sexta feira, 17 de novembro, de escuridão
rasgada por misteriosos relâmpagos, línguas de fogo faiscando sem parar, nos
céus de uma distante e assustada cidade às margens do silencioso Itajaí-Mirim.
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