CARTA AO COMANDANTE DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Encheu-nos
de esperança a nomeação de V. Exa para o comando da Força; afinal, seu
antecessor era homem de apenas duas expressões: “sim senhora” e “permissão para
me retirar”.Subserviência total. Esqueceu-se de uma das máximas do General
Manuel Luís Osório, o patrono da Cavalaria: “o soldado é obediente mas não é
servil”.
Todavia,
General, estas esperanças começam a esmorecer. O 31 de março passou e V. Exa
nada disse. Ordens de cima? Medalhas
continuam a reluzir no peito de marginais condenados a prisão pela Justiça, com
sentença transitada em julgado,
e providências visando sua cassação não são tomadas, mesmo amparadas e, até,
determinadas pela legislação em vigor; sua ordem do dia no Dia do Exército foi,
usando nosso jargão castrense, uma ordem do dia M1.
Esperávamos,
General, algo mais, uma observação, um recado velado, uma insinuação de que o
Exército, o Exército Brasileiro, o Exército de Caxias não aguenta mais ser
enxovalhado, achincalhado, vilipendiado, recebendo missões de polícia, sofrendo
um revanchismo injustificável, um revanchismo torpe, por aqueles que não se
conformam terem sido derrotados na luta armada, tratado pior que os triários, a
última linha das legiões romanas depois das quais a História nada mais
fala.
Esperávamos,
General, algo como a circular do Gen Castello Branco em 1964. E note-se que,
quando a escreveu, o General Castello era oficial general da ativa, Chefe do
Estado-Maior do Exército. Recordemos alguns trechos:
“Os meios militares nacionais e permanentes não são propriamente para defender
programas de Governo, muito menos a sua propaganda, mas para garantir os poderes
constitucionais, o seu funcionamento e a aplicação da lei...
Não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos
antidemocráticos. Destinam-se a garantir os poderes constitucionais e a sua
existência”. Embora, à época, V. Exa provavelmente cursasse o ginasial (eu era
aluno do 2° ano colegial do CMRJ) aposto ter tomado conhecimento deste
texto.
O
General Paulo Chagas, em seu artigo “O Exército de Sempre e o Caminho do Dever”
publicado no site “Ternuma” tece comentários sobre o silêncio das Forças
Armadas. Um trecho merece transcrição: “infelizmente entendo que, se as Forças
Armadas continuarem silenciosas em relação aos atos e fatos que interferem em
sua missão constitucional, ocorridos interna ou externamente, mantendo-se, por
inação, coniventes com os projetos de poder do governo da ocasião, elas verão
surgir, rapidamente, a cizânia e a quebra de coesão entre seus quadros e se
transformarão (...) em milícias manipuladas pelo interesse corrupto dos
políticos, mal equipadas, despreparadas e, principalmente, mais preocupadas em
sobreviver do que em servir! Considero que a omissão é a mais destrutiva das
atitudes de um soldado, e que será tanto mais destrutiva quanto mais alto seja
seu posto ou graduação.”
Durante
a luta armada (da qual não participei – as unidades em que servi não foram
engajadas naquele combate) companheiros nossos receberam missão de exterminá-la.
Cumpriram a missão! De armas nas mãos, com risco da própria vida e, pior, com
risco de suas mulheres e filhos que ficavam expostos à sanha dos terroristas.
General, o que o nosso Exército faz, hoje, por estes homens? Nada, General! São
xingados, chamados de assassinos, torturadores, denunciados por comissões da
verdade totalmente espúrias e revanchistas. Sofrem processos judiciais
absurdos.
Tem
que custear advogados para a sua defesa com seus próprios recursos; ainda bem
que o nosso excelente nível remuneratório permite que tais despesas sejam
suportadas. O que fizeram para merecer tal tratamento? Cumpriram a missão! Os
terroristas, como já disse, não se conformam de terem sido derrotados e, mesmo
anistiados, fazem de tudo para infernizar a vida daqueles que os derrotaram e,
pior, com o beneplácito, a conivência, a cumplicidade, o incentivo do governo
constituído que, “mutatis mutandis”, é terrorista. E, tal qual o poema de
Maiakowski, não dizemos nada! E não fazemos nada!
Preocupa-nos
ainda, General, o atual estado de penúria da Força. Circula na Internet boatos
de que o combustível do Exército esgotar-se-ia em julho; que a munição estocada
seria suficiente para uma hora de combate; que seria adotado o regime de meio
expediente nos quartéis em virtude de restrições de rancho. Consta que no PDC
(Palácio Duque de Caxias), no Rio de Janeiro, torneiras teriam sido retiradas
dos banheiros para economizar água e que não se estaria ligando os aparelhos de
ar condicionado para economizar energia. A maior preocupação, General, consiste
em, num quadro desses, como barrar forças e situações adversas caso venham a
ocorrer (e, com certeza, ocorrerão).
Vivemos
dias preocupantes e sombrios. A tentativa de tomada do poder (tal qual em 1964
eles já têm o governo) desta vez, não será, numa primeira etapa, pela força.
Basta ler Gramsci. O Gen Coutinho, Sérgio Augusto de Avellar Coutinho,
recentemente falecido, brindou-nos com “A Revolução Gramscista no Ocidente”,
onde, num fantástico poder de síntese, conseguiu resumir os não sei quantos
volumes dos “Cadernos do Cárcere”, de Antonio Gramsci, em um pequeno livro de
135 páginas. Lê-lo (acredito que V. Exa já o tenha feito), fazendo um paralelo
do que ali está escrito com o que acontece atualmente no Brasil, é mergulhar
fundo na situação do Brasil de hoje, é muito mais que uma radiografia do momento
nacional, é uma verdadeira ressonância magnética deste momento. Iniciamos a
“fase estatal”, a transição para o socialismo. E o que fazemos?
Nada!
E
o decálogo? V. Exa se lembra do decálogo? Decálogo para tomada do poder pela via
pacífica? Tomei conhecimento do decálogo quando cadete, quando na AMAN
estudávamos Guerra Revolucionária. Acredito que V. Exa também o tenha feito
embora não sejamos contemporâneos na Academia.
Recordemos:
-
controlar politicamente o Judiciário;
-
desmoralizar o Congresso Nacional;
-
amordaçar o Ministério Público;
-
arrochar a coleta de impostos;
-
valer-se de dossiês para impor a vontade a banqueiros, empresários e adversários
políticos;
-
direcionar a produção artística e cultural e controlar a imprensa (e, hoje, a
INTERNET)
-
instalar núcleos de ativistas em todos os órgãos da administração
pública;
-
promover a instabilidade no campo;
-
desmoralizar e desmantelar as Forças Armadas, inclusive com a criação de forças
paralelas e
-
desarmar a população.
Como
V. Exa pode notar, o que acontece hoje, no Brasil, não é mera coincidência; é um
processo pensado, planejado, com execução acompanhada em seus mínimos
detalhes.
Ademais,
o que vemos no nosso dia a dia? Vemos uma incitação à luta de classes, quando se
joga brancos contra pretos, patrões contra empregados, ricos contra pobres.
Vemos
uma total degradação moral com a televisão mostrando comportamentos sexuais
esdrúxulos, principalmente se levarmos em consideração a hora em que são
apresentados, quando as crianças ainda estão acordadas, tudo de acordo com a
doutrina marxista-leninista; vemos
um ex-presidente da república (sem erro de ortografia, com minúsculas mesmo)
conclamar milícias ilegais e assassinas para uma guerra civil, vemos o líder
dessas milícias, nada mais que um bandido, solicitar apoio a governos
estrangeiros, parceiros no Foro de São Paulo, para combater nessa guerra civil;
vemos organizações narcoterroristas estrangeiras treinando e instruindo gente
dos chamados movimentos sociais para o combate.
E que faz o nosso Exército, o que fazem as nossas Forças Armadas para
neutralizar este quadro? Nada!
E
que vemos mais, General? Vemos um quadro de corrupção institucionalizada. O
mensalão foi um escândalo. Resultou na cúpula do partido do governo condenada a
prisão, com sentença transitada em julgado, ou seja, sem mais possibilidade de
recurso. O mensalão, porém, comparado ao PTrolão, deveria ser julgado num
Juizado Especial de Pequenas Causas. Imagine V. Exa quando abrirem a caixa preta
do BNDES. Por muito menos, Getúlio suicidou-se. Por uma Fiat Elba Collor
renunciou para não sofrer impeachment. O povo, General, já percebeu e já disse
“não” a esta situação com marchas que lotaram as principais cidades brasileiras.
A presidente está acuada. Não aparece em público, se o fizer, sabe que receberá
uma uníssona, estrondosa e retumbante vaia. A Nação, bem como o Estado, estão a
deriva.
Constituímos,
nós, Exército Brasileiros, nós Forças Armadas, a “Grande Barreira”, a ultima
ratio regis”. O povo brasileiro confia em nós e nós, ainda, confiamos em nossos
comandantes. Não nos decepcionem.
Antes
de encerrar, General, um fato novo. Leio no blog Alerta Total carta de uma mãe
de aluna do CMRJ. Narra aquela senhora que, os livros de História e Geografia
adotados no Colégio, antes escritos por historiadores militares e publicados
pela Bibliex estão sendo substituídos, por pressão do governo, por outros, de
cunho marxista leninista. Isto é fato General? V. Exa tinha conhecimento disto?
Estamos “jogando a toalha”? Estamos sucumbindo à sanha vermelha? Estamos
permitindo que nossas crianças, nossos “curumins”, sejam “catequizados” por esta
corja? Leia o artigo “Colégio Militar do RJ com orientação comunista?”, de
Percival Puggina. Como já disse foi publicado no blog “Alerta Total”, neste
domingo, 10/05/2015.
Finalmente,
deixo a V. Exa uma expressão do Mal Deodoro da Fonseca que, mesmo sendo amigo do
Imperador e apesar da crise de asma e dos 39° de febre, montou em seu cavalo
baio para dar vivas à República: “o Exército é um leão que dorme e que um dia
pode acordar raivoso.”
Queira
aceitar Gen Villas Bôas (e merecer) a nossa admiração, os nossos respeitos e a
nossa continência.
SELVA!
BRASIL
ACIMA DE TUDO!
Walcyr
Monteiro da Motta é Coronel reformado do EB. Carta escrita e enviada em 10 de
maio de 2015.