segunda-feira, 25 de junho de 2012

Faço 80 anos hoje.



Eu faço 80 anos hoje.  

Na verdade, não percebi diferença nenhuma de ontem, com 79, para hoje. As diferenças veem de longe.

Veem do tempo em que eu gostava sair – e tinha companhia para isso.

Veem do tempo em que, para ver um bom filme, eu precisava sair de casa.

Veem de quando eu gostava de comprar roupa nova, de fazer dieta e emagrecer, de arrumar o cabelo, de usar salto alto...

As diferenças veem chegando aos poucos e a gente nem se dá conta. Salvam-nos os filhos e os presentes que eles nos dão: netos! Bisneto -já vem chegando o primeiro aí...

O primeiro choque vem com a aposentadoria, mas doeu pouco porque logo fui chamada por pessoas que confiavam em mim aos 60 anos, para um árduo trabalho cultural. Consegui realizá-lo.

Depois  parei de jogar, segundas animadas com a Vada, a Mariza, a Hilda - depois a Yara.

Depois, assumi com prazer e orgulho, uma página semanal em a Notícias do Dia e fiz leitores a mil. Quando cansei, pedi pra sair, deixando, segundo a Direção do Jornal, as portas abertas para meus pensares. Às vezes, volto lá.

Depois disso, comecei a não sair de casa. E ainda pago para ficar aqui.

Sou dona da minha vida, não sei até quando. Cuido da minha saúde, vou aos médicos sozinha, ao banco, ao supermercado, à livraria. E só. À Igreja, quando posso ir à tarde, pois que minha Igreja de Nossa Senhora de Fátima e de Santo Antônio, às vezes, celebram Missa à tarde.

Aos domingos, minha fé fica ao encargo do Divino Pai Eterno e Ele vem aqui em casa.

Não vou mais a festas. Nem a enterros.

Não acho graça em nenhum dos dois.

Gosto que venham à minha casa as pessoas que gostam de mim.

Minha casa me sustem, meu jardim me encanta, meu escritório é meu amparo. Ele preenche-me de quase tudo o que ainda necessito : zelar pela minha memória que é muito boa, graças a Deus. Não digo ótima porque, de repente, falta-me o nome de alguém ou de algo, uma palavra que tem o significado exato para o que quero dizer ou escrever. Aí, salvai-me Santo Aurélio.

Minha leitura sempre me sustentou e hoje é meu passatempo maior. Vivo alimentada por excelentes autores, alguns atuais, outros mais antigos, mas todos muito, muito bons.

E o computador preenche-me todo o espaço livre ( benditos GBs) e leva-me para perto de quem está longe, mas vive no meu coração.

E envelhecer  foi um processo impercebível e indolor para mim, graças a Deus.

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