quarta-feira, 31 de outubro de 2012

TEMPERANÇA

 Quero-te sol e sal.

Aquece e tempera de amor

minha densa neblina..

Sei lá se isso combina.

Mas quero-te sol e sal na temperança,

mistura minha de tempo e de esperança

no tempero da vida!

 

Quero-te mel e mar!

Na sobremesa, o mel.

O mar, no balanço da sesta...

Sei lá se isso presta.

Mas quero-te mel e mar na madureza,

enrolando de cor e de certeza,

meu suspiro mais fundo.

 

Quero-te lei e lua,

quero render-te

e ter-te na penumbra

do tempo da saudade...

-E eu sei que isso é verdade.

Quero-te lei e lua na tardança.

Eu misturei tardio com esperança?

- Ah! Deixa pra lá...

                                                  Mila Ramos

Fotos colhidas no Google

 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

MULHER MUNDO



A mulher mundo parou rente à calçada:

a pele seca, sedenta a garganta

e a alma.

A mão, mostrando a palma,

era o gesto da dor.

O vestido (era vestido?)

tão surrado, tão sujo, arrebentado na barra.

 

O filho, a cria do silêncio,

do abandono,

filho de cão sem dono,

era quem puxava a saia feito rédea.

Era a mãe - mãe ou potranca –

                                                             carregando à anca

                                                            outro filho sem pai?

 

A mulher mundo recebeu moedas,

recebeu afagos, xingações:

-Vá trabalhar, vagabunda!

O mundo é de quem se vira.

 

E ela se virou.

O filho, a FEBEN levou,

a mãe, outro macho emprenhou.
 

 

A mulher mundo aparou esmolas,

resmungou sem nexo,

barganhou o sexo,

suspirou na rua,

descompôs a lua,

esgravatou no lixo,

espremeu o corpo,

esganiçou,

 berrou,

ganiu,

gemeu.

-Mais um filho da puta que nasceu!

 

O mundo,
 
a mãe, o filho,

a fome,
 
a mão,
 
calçada,

vida mal-amada,

boca escancarada,

nosso mundo.
.............................................
Mila Ramos                                                           Fotos colhidas no Google

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UDO DÖHLER, O MELHOR DE NOVO




O garoto Udo cresceu trabalhando muito, estudando muito, produzindo muito.
 
Missão cumprida, decide ajudar a cidade em que nasceu, a cidade que ama, ajudando-a a ser mais moderna, mais rica e, especialmente, melhor para seu povo.


Quem conheceu a pequena fábrica da Rua Alexandre Döhler, agora só loja para expor seus produtos?
E quem já foi pra zona norte da cidade e viu a grande Fábrica Döhler, na zona sul, vendendo para o mundo?

Olhem para o prédio que iniciou as atividades do Hospital Dona Helena. Vejam o primeiro aumento .Vejam o segundo aumento, o terceiro , o quarto. E o novo, muito maior, o dobro do todo.

A partir do ano que vem, Udo Döhler vai gerir Joinville e seu destino.
Joinville vai crescer muito mais.
Bem-vindo à Prefeitura Municipal de Joinville, UDO DÖHLER, com suas mãos limpas.
Udo Döhler está pronto para vencer mais um desafio: fazer Joinville crescer mais, muito mais.

Parabéns a Udo Döhler e à Cidade de Joinville.

                               poeta Mila Ramos                                     
                                          pela cidadã Zelândia Ramos dos Anjos




                                                              




                                        
 

sábado, 27 de outubro de 2012

REENCARNAÇÃO






Se outra vida eu tiver,

 hei de voltar poeta,

 outra vez..

 

               


Mesmo num cão,

               lambendo versos,

               latindo rimas,

               farejando emoções

               e amando livre,

               ali - em plena rua-

 como se o mundo fosse

 um imenso canil...

             Se já não o é...
                                  


Mila Ramos

( fotos colhidas no Google)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

MARESIA



 


 

 

Dá-me os castelos de areia


que a maré desmancha

e eu refaço,

remonto,

levanto as muralhas,

as torres,

os sonhos.

                

                  Dá-me a constância da onda,

                  o sal do mar,

                  o mar do sol queimando as fantasias.

 

Dá-me a noite caindo,

o mar de lua,

o baixio,

a maresia,

o aguapé.

 

Dá-me os castelos,

meus sonhos de volta

antes que suba a maré...

                                           
 
 
 Mila Ramos


 
Imagens colhidas no Gooble
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"A TERRA É AZUL"





AZUL

 

Cassem o depredador

porque  “a Terra é azul”!

 

Coloquem-no sob algemas,

                                              vedem-lhe os olhos,

amordacem-lhe os sentidos.

 

Depois, frente ao azul do rio,

tirem-lhe as vendas para o desafio

da dança azul dos peixes

na transparência das águas.

 

Em mar aberto,

deixem que olhe o infinito azul,

mostrem-lhe o vôo do albatroz,

o mergulho azul da gaivota.

Deixem que veja onde brota

a lenda das sereias.

 

E – sentidos soltos –

levem-no para a floresta.

Ali, ele ouvirá, extasiado,

o canto universal mais afinado:

o sabiá, o azulão, a cotovia,

o ensaio geral da sinfonia

na regência febril das arapongas!

 

Então, a fera predadora morrerá!

E, da visão romântica do cosmo

ressurgirá,

puro e translúcido,

um homem muito azul!.

                                    Mila Ramos
                                  ( Fotos colhidas no Google)

A MÃE LÁ DE CASA

 


Mãe lá de casa

Eu estive fora um tempo.
Onde casei, tive filhos e após a separação fui ver como que era a vida de homem recém-separado morando sozinho por alguns meses. Voltei após quase doze anos pra casa de minha mãe para fazer companhia mesmo e não deixá-la tão só. Já não sei quem ganhou mais com essa decisão.
Tenho quase certeza que o maior beneficiado tem sido eu.
Quem me segue no twitter e perde um pouco do seu tempo lendo o que me disponho a postar nos cento e quarenta caracteres por vez já deve ter percebido que sou um tanto deslumbrado com a forma como minha mãe quase octogenária (fará 80 anos daqui a dois meses) enxerga a vida. São dela alguns comentários bem humorados e irônicos, que, volta e meia compartilho com quem me segue naquela rede social.
Tem sido outro prazer que eu não conhecia tão bem assistir a jogos com essa corintiana fanática conhecedora das mais difíceis regras do jogo bretão. Impedimento por exemplo ela tira de letra, muitas vezes, antecipando-se até mesmo aos comentaristas. Dia desses num lance marcado contra o timão antes mesmo de o Arnaldo dar seu veredito, vendo no replay, dona Maria disse com sua habitual ranzinzisse “só tá o Jorge Henrique e o goleiro, então só pode ser a merda do impedimento!”.
São maravilhosas as suas frases feitas e desfeitas: para uma pessoa de difícil índole, “pau torto se você tenta endireitar, quebra...”; dando um conselho sobre um relacionamento, “se você adoça muito a pessoa ela acaba salgando sua vida...”; ou falando sobre o tempo, “o céu escuro já não mostra que vai chover, serve é pra enganar a moça da tevê...”. Sempre séria e com um meio-sorriso a Maria Raposo tem uma frase definitiva pra qualquer coisa, frases que muitas vezes a gente demora pra assimilar.
Ela nunca foi à escola e ultimamente reparamos nela uma preocupação com o falar. Ela se esmera em falar corretamente, o que como minha filha afirma a torna uma fofa. Mas para ela existe uma dificuldade a mais já que ela possui a língua presa e por isso algumas palavras são para ela impronunciáveis. “Pênalti”, por exemplo, vira aquele termo que designa uma parte íntima masculina... Ela tenta falar o nome da loja de materiais para construção onde tem conta e sai um “escorpel” que soa muito mais difícil do que o nome original. Motivos para risadas e no caso do meu filho, gargalhadas. Fazê-la falar certas palavras são para meus dois filhos motivo de festa. Coisas que ela poderia considerar chacota e poderia até ser, mas não, ela sabe que essa característica a torna uma vó diferente, divertida, única. E vó é mãe duas vezes. Sinto que seus netos e bisnetos a renovam e fazem com que ela tenha mais disposição para continuar encarando a vida com alto astral e continuar fazendo com prazer um café novo e fresquinho a cada visita, a cada “passada” de um dos filhos, dos parentes, amigos dos filhos e comadres.
Minha mãe é hoje uma referência para que eu perceba em mim mesmo as falhas que eu não quero para o meu futuro.
Espelho-me nela para continuar a ter prazer nas pequenas coisas como quando dia desses, ela me disse da felicidade que tem ao simplesmente olhar a casa cheia de gente e poder pensar que simplesmente que se todos aqueles estão ali é por causa dela.
Sim, esse pensamento é o que pode nos fazer bem sempre: vou fazer o que for possível para que no futuro eu possa me orgulhar da minha prole.
A mãe lá de casa disse que não quer essa “frescura” de presente de dia das mães. Ela diz que esse negócio foi inventado para que todo mundo “limpe a consciência”. Eu quase entendi o que ela quis dizer, mas nem vou comentar... Domingo a gente vai fazer um almoço especial lá em casa, depois compro um presente como quem não quer nada...

Marco Antônio
Filho da dona Maria do Zé Florentino
Um destaque meu para um bom texto de um  bom filho.
Mila Ramos
 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

NORMA BRUNO

Norma Bruno - para ser lida.

Há alguns bons anos, comprei um livro de Milan Kundera para ler no final de semana. Comecei na sexta à noite e meia hora depois, fiquei sem livro para ler nos demais dias... Lidas as duas primeiras páginas, decidi fechar e guardar o mesmo, (que dou-me o direito de não divulgar o título): ao término daquela rápida leitura, fiquei certa de que o autor, por melhor que fosse – e o é - não se poderia sobrepujar, não poderia ser melhor do que naquele começo de história.

Nesta sexta feira passada, tive a mesma sensação quando comecei a ler "CENAS URBANAS E OUTRAS NEM TANTO", de Norma Bruno.

A crônica de abertura dá o toque do que é a tônica de seu trabalho: uma grande cronista do cotidiano, o que a transforma numa excepcional "pescadora" do dia-a-dia.

Este é o maior elogio que posso fazer a uma companheira cronista, porque eu não sei fazer isso. E sofro muito com a agenda de jornal.Tanto, que declinei de minha página semanal no Notícias do Dia. É tão grave a minha carência de tema, que escrevo sobre passado. E isso é desculpa de quem não tem a agudeza para sentir a vida ao seu redor como o tem Norma Bruno.

Li todo o livro com o apetite de quem está encantada com o que tem nas mãos.

E pergunto-me feliz: Que jovem não se apaixonou pelo trapezista do circo?

Quem nunca viu um florianopolitano com uma gaiola de um passarinho cantador pendurado no dedo?

Quem nunca ouviu um pescador contar a história de uma canoa "bordada"? Só pescador conhece o que significa isso, e sabe enxergar uma personagem como essa?

Quem sabe escrever foneticamente o som do "S" do ilhéu, uma famosa mistura de jx, sei lá?

Só Norma Bruno.

Você encanta com seu novo livro.

Você faz rir e comove com suas histórias simples porém fotográfias, de nossa linda Capital.

Obrigada por este presente que tem corpo e alma, alegria e sabedoria de ilheu.

Mila Ramos

Joinville, Outubro de 2012.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

DAS KIND EINER INDUSTRIESTADT




...Und aus welB

und aus schwarz

entstand das grau ...

 

Und aus dem Rauch der Schlote

entstand die Umweltverschmutzung.

Aus der Umweltverschmutzung

entstand das Röcheln

aus dem Röcheln

die Erstickung

aus der Erstickung

der Tod

aus dem Tode

das schwarz

aus dem schwarzen

das grau

aus dem grau

das welBe

der Seele

der eratickten

Kindlein.

 

(original em português)

 

BRANCO

... e do branco e do preto

fez-se o cinza...

E do cinza das chaminés

fez-se a poluição.

Da poluição fez-se o pianço

do pianço

 a asfixia

da asfixia

a morte

da morte

o preto

do preto

o cinza
o cinza
 
o branco
da alma

das criancinhas

sufocadas...

                                (Mila Ramos)

IMAGENS PESQUISADAS NO GOOGLE

domingo, 21 de outubro de 2012

PERDA


 

       





... fica um buraco fundo,
 
sem sentido,

onde não cabe mais nem bem nem mal,

um vazio,

um vão,

sem dentro ou fora,

sem cor ,

o oco de alguma  coisa  despejada.

 

 
Sem ti,
assim ficou meu peito.

Mila Ramos