Passo pela Rua XV de Novembro, em seu trecho
mais central, a esquina da Rua Dr. João
Colim e paro na calçada da CELESC.
Sou mesmo uma daquelas pessoas idosas que andam
pela cidade em busca de suas saudades, catando lembranças, revendo cenas de antigas alegrias e que param
nas ruas, mãos entrelaçadas nas costas, pensamento distante e que nem
cumprimentam ninguém. E se sou acordada de meu estado de dormência saudosista,
respondo: Han? Eu estava só lembrando como era antes... E rio.

Neste dia, eu estava olhando para a Lyra, nossa
Sociedade Harmonia Lyra.
A bela, a aristocrata, a chamada “alemã” pelos
mais radicais do pós guerra, a mais “chic” pelos que não a frequentavam, enfim a
sociedade dos mais ricos, como diziam os mais pobres.
Pouca gente entra ou sai. Nenhum movimento ou
vibração que denuncie seu passado de nobreza ou glória: bailes a rigor, teatro,
grandes concertos, escola de dança (Ah! Dona Elise Lot), grandes bodas, boate
movimentada todos os finais de semana, shows espetaculares, a Lyra estava viva!
Meu pensamento reanimado, entra Lyra adentro, passa pela
entrada bonita onde, nos espelhos lindíssimos, a gente dava a última olhada no
visual, cumprimentava a todos só de aceno, subia as escadas saltitando (Ah! Meus
bons joelhos!) e aí, o Salão Principal se escancarava, florido e iluminado para
nos saudar.
Risos e abraços, um oi para todos os lados, a
orquestra tocava um bolero ou um fox e lá íamos nós, antes do primeiro gole do
melhor vinho, do melhor champanhe, do wiskey mais nobre.
Saudadona!
Saudadona mesmo é do paralelo 38. Se você não
sabe o que é isso é porque não freqüentou a Lira e sua boate jovem nos anos 50;
era a referência a uma zona da guerra que terminara . Era a alegria da moçada
nas tardes de domingo, o ponto mais escurinho da sala, o mais romântico...
Lembro de Antônio Carlos Moreira, irmão da Terezinha Moreira, depois Rosa,
Wigando Zimath, um grande pé de valsa, Aimoré Palhares e tantos outros garotões
da época, afirmando uma intensa paixão aos ouvidos das meninas de então, paixão
que logo acabava.
Assim era a Sociedade Harmonia Lyra: linda
(ainda o é), alegre, viva, jovem, adulta e madura .
Vibrante!
Hoje está mais caladona, ”sentadinha” em seu
belo sofá de estilo requintado, à espera dos associados que quase não aparecem por
lá.
A vida tem a resposta!
O prédio, que andava meio tristonho, sempre
fechado, parece que recebeu um ar de sua graça!
Pintura nova: sua magnitude evidenciou-se,
suas paredes parecem mais altas, acho
até que ela desabrochou, cresceu, as faces lindas que adornam os cantos externos
de sua fachada ( você já parou para observar este detalhe? ) agora ficam mais em
evidência.
Continuo não entendendo nada de estilo
arquitetônico, mas tenho meu conceito de beleza: a Lyra está lindíssima,
cuidada, mais clara, sempre imponente
Entrei com a Raquel para fotografar sua
entrada. Um
encanto.
Parabéns à nova
diretoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário