Um
bem-te-vi canta na pitangueira, ao lado da janela do meu escritório. Paro o que
estou fazendo para ouvi-lo! Pode haver alguma música mais bela do que o canto
de um pássaro livre, mesmo o de um bem-te-vi?
Acho
que é o inesperado do dia de sol neste inverno de chuva e este ventinho
gelado que o fez voar do ninho até aqui e provocar um canarinho e sua
namorada que estão saboreando os botões da pitangueira em flor.
Pois é, o fato é que a minha árvore, velha de
guerra, de quando briguei com o construtor da casa para que não fosse
derrubada, continua me agradando com este quadro: ninhos em meio a pequenas
bromélias, muito musgo e parasitas do mato e os pássaros livres que sempre
acham o caminho de volta, sejam rolas
comilonas, sabiás cantoras e casadas, grávidas de ovos que logo darão vez a
filhotes famintos.
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Meu
escritório, numa tarde de inverno e sol, é um paraíso!
Metade
dele é seu janelão e a pitangueira.
De
cortinas sempre escancaradas para ver réstias de céu velho e telhados alheios,
às vezes penso em reformá-lo por dentro, mas teria de começar por mim. E não dá
mais.
Cheguei
à conclusão de que já adquirimos - o escritório e eu - todas as qualidades e
defeitos que poderíamos ter para uma feliz convivência.
Na
desordem dos livros na estante que recobre sua parede à minha frente, eu acho
tudo. Quando não encontro algo, espero, e no momento oportuno, o procurado
aparece.
São
os milagres da convivência madura, da coexistência sem segredos, da parceria de
dias e até de noites inteiras de trabalho para cumprir um compromisso assumido.
Nestes momentos, éramos só nós dois. Telefone desligado, casa
silenciosa, minha Dana dormindo e roncando na almofada, a secretária do
lar no refúgio de seu quarto porque ninguem é de ferro, e nós dois, o
escritório e eu, em ação.
Quantas
noites passadas em claro, cabeça criando e mãos executando, caneta em punho, algum
tempo depois um teclado gaguejante, em ritmo lento até o desembaraço quase normal...Aí,
aconteceram horas silenciosas e os
passarinhos da pitangueira, também.
Quando
o primeiro canto da sinfonia matinal vibrava lá fora, eu encerrava mais um
longo trabalho que exigia silêncio e quietude.
Houve
um tempo em que este cantinho era o preferido dos meus netos, o que hoje é
raro- que pena!
Aqui
desenhavam e eu guardava suas artes. Faz pouco, que dei a eles os rabiscos do que
chamavam de carros, aviões, bichos e a própria família. Desenhos lindos!
Meu
cantinho, durante o dia, é ensolarado, alegre e musical –pássaros, de
preferência, ou cd.
Uma
flor ou uma folhagem colhida no jardim dá um colorido a mais neste cenário,
onde a protagonista sou eu.
Só aqui.
(fotos colhidas no Google)
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