segunda-feira, 5 de novembro de 2012

OS BEM-TE-VIS






 

Um bem-te-vi canta na pitangueira, ao lado da janela do meu escritório. Paro o que estou fazendo para ouvi-lo! Pode haver alguma música mais bela do que o canto de um pássaro livre, mesmo o de um bem-te-vi?

Acho que é o inesperado do dia de sol neste inverno de chuva e este ventinho gelado que o fez voar do ninho até aqui e provocar um canarinho e sua namorada que estão saboreando os botões da pitangueira em flor.

 Pois é, o fato é que a minha árvore, velha de guerra, de quando briguei com o construtor da casa para que não fosse derrubada, continua me agradando com este quadro: ninhos em meio a pequenas bromélias, muito musgo e parasitas do mato e os pássaros livres que sempre acham o caminho de volta,  sejam rolas comilonas, sabiás cantoras e casadas, grávidas de ovos que logo darão vez a filhotes famintos.

Meu escritório, numa tarde de inverno e sol, é um paraíso!

Metade dele é seu janelão e a pitangueira.

De cortinas sempre escancaradas para ver réstias de céu velho e telhados alheios, às vezes penso em reformá-lo por dentro, mas teria de começar por mim. E não dá mais.

Cheguei à conclusão de que já adquirimos - o escritório e eu - todas as qualidades e defeitos que poderíamos ter para uma feliz convivência.

Na desordem dos livros na estante que recobre sua parede à minha frente, eu acho tudo. Quando não encontro algo, espero, e no momento oportuno, o procurado aparece.

 São os milagres da convivência madura, da coexistência sem segredos, da parceria de dias e até de noites inteiras de trabalho para cumprir um compromisso assumido. Nestes momentos, éramos só nós dois. Telefone desligado, casa silenciosa, minha Dana dormindo e roncando na almofada, a secretária do lar no refúgio de seu quarto porque ninguem é de ferro, e nós dois, o escritório e eu, em ação.

Quantas noites passadas em claro, cabeça criando e mãos executando, caneta em punho, algum tempo depois um teclado gaguejante, em ritmo lento até o desembaraço quase normal...Aí,  aconteceram horas silenciosas e os passarinhos da pitangueira, também.

Quando o primeiro canto da sinfonia matinal vibrava lá fora, eu encerrava mais um longo trabalho que exigia silêncio e quietude.

Houve um tempo em que este cantinho era o preferido dos meus netos, o que hoje é raro- que pena!

Aqui desenhavam e eu guardava suas artes. Faz pouco, que dei a eles os rabiscos do que chamavam de carros, aviões, bichos e a própria família. Desenhos lindos!

Meu cantinho, durante o dia, é ensolarado, alegre e musical –pássaros, de preferência, ou cd.



 

 Uma flor ou uma folhagem colhida no jardim dá um colorido a mais neste cenário, onde a protagonista sou eu.
Só aqui.

 
                                                           (fotos colhidas no Google)

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