sábado, 16 de fevereiro de 2013

O PÓ DA TERRA



Mila Ramos

Já não se faz mais Quaresma como antigamente.

Não é porque já passei do tempo em que a opinião dada era discutida, mas é que a diferença de modus vivendi  é outro mesmo.

Primeiro, sinto que as pessoas não estão nem aí para o calendário religioso de ninguém, muito menos aquele em que minha Igreja preceitua uma conduta mais silenciosa, mais contrita, mais respeitosa com as coisas de Deus, nem acreditam Nele, parece-me.

Que bom para ladrões, assassinos, incendiários, para gente que nem sente a tristeza de ninguém nem sua dor, gente que suja a sua cidade sem pena ou dó, gente que não divide nada com ninguém, malandros, vadios, aproveitadores e sei lá mais quanto existe no mundo que se acha dono de tudo e que nada deve a ninguém... Sem Deus é mais ou menos isso.

Não que os bons cidadãos sejam obrigatoriamente religiosos, crentes.

Não, mesmo. Mas pelo menos não estão contrariando as leis do respeito pelo ser humano e pela fé que tenham dentro de si, nem pela vida de outrem. Podem não crer mas são gente de Deus.

Por tudo isso, estou meditando hoje sobre a Quaresma, tempo santo de Deus, com seus dogmas e suas leis.

E a Quaresma tem lei, leis divinas,  e nas gerações passadas – e, felizmente, em muitas famílias ainda - as leis da Quaresma são respeitadas, são cumpridas.

Lembro bem que, na terça-feira de carnaval - a chamada terça-feira gorda- saiamos à meia-noite do baile de Carnaval porque, exatamente aí começava a Quaresma.

E não comíamos carne vermelha. Só peixe. E nem em nenhuma das sextas-feiras da Quaresma.

Na sexta-feira santa era um jejum formal, nem peixe nem nada que tivesse de exigir o  trabalho exaustivo de alguém. Nem cavávamos a terra. Minha avó torrava o pão da véspera, cozinhava ovo, abóbora, banana, fazia farofa e era tudo. Salvo minha bisavó, que era velhinha, estava dispensada do jejum e da abstinência. A “marmanjada”, não!  

No domingo de Páscoa a festa era absoluta, todos festejavam a ressurreição de Cristo e, quando muito, o dia de um coelho fantástico que punha ovos com amendoim açucarado, esse mesmo, que hoje põe ovos de chocolate ... É o mesmo coelho de antigamente, só mais sofisticado, e muito, muito mais caro.

Quaresma é isso aí: Como tudo mudou para o ser humano, ela mudou também.

Mas Deus é o mesmo.

Quem não acredita é responsável por si, claro. Mas Ele está de olho, zelando por todos. É minha fé.

Somos o pó da terra.

Ou alguém duvida disso ainda?
--------------------------------------------Mila Ramos.2013
milaramos.joi@terra.com.br

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