Mila Ramos
Mergulhando de cabeça no rio obsequente do imposto de renda.
O momento em que a gente se sente mais pobre e mais lesada de todos os dias de nossa vida.
É. Além do que se desconta em folha - sou aposentada e pensionista - ainda tem mais, muito mais, para entregar ao leãozinho safado do IR.
E aí meu humor fica burro, grosseiro, inconsequente.
Lembro que estou ficando mais pobre. Com a mesma receita, respeitadas as atualizações anuais, há tempos atrás, eu viajava, comprava uma ou outra pequena jóias, dava bons presentes para meus filhos e meus netos,
meu carro era muito melhor, minha casa mais cuidada em sua aparência externa, enfim, eu me sentia muito mais solta em meus gastos e nunca senti falta de dinheiro. Afinal, eu merecia o que recebia do Governo porque eu trabalhei trinta e três anos na Educação, fui reconhecida pelo meu trabalho de professora porque ensinei meus alunos a ler, a escrever e a contar o que liam, a única prova de que uma criança ou adulto está alfabetizado. O Ministro da Educação provavelmente não sabe desta verdade porque nunca alfabetizou ninguém. Nem a presidente Dilma.
Mas, meu assunto de hoje é o leão, analfabeto com certeza.
Eu dizia que estava ficando mais pobre.
Minha salário, que segundo todos os economistas e administradores, não é renda, pois não se trata de aplicação de nenhuma natureza, não é resultado de nenhuma empresa que gera lucro. É o pagamento de meu trabalho com direito adquirido no decorrer dele, pagando e continuando a pagar essa aposentadoria até morrer.Putz!
Milhões e milhões de pessoas idosas no Brasil estão nesta situação.
Quando vou ao banco retirar o salário para pagar as contas, muitas de nós rimos uma da outra, lembrando de nossa condição anterior, agora com menos posses e muito mais velhas, claro. Quanto a isso, o leão não tem culpa, claro, nós preferimos - quem não prefere?- viver muito mais do que morrer jovem..
Claro, não é, seu leão? Afinal é com ele que estou falando.
Hoje levantei os documentos que posso descontar: o total anual da UNIMED, no valor de R$1235,89 ao mês, o Dentista, onde vamos muito mais hoje do que há dez ou vinte anos, um salário anual da Empregada, (a receita só permite um salário mínimo por ano).
E aqui começa um novo equívoco do Leão.
A empregada doméstica, mesmo ganhando mais que isso, o leão só aceita o desconto de um salário mínimo e de uma só empregada. A minha ganha só isso mesmo, mas e as outras empregadas que ganham muito mais que isso, os patrões não podem descontar um salário real por que? Quem vai esclarecer isso?
Picineiro, jardineiro e passeador com minha velha cachorra Dana não entram na conta do leão. Mas eu gasto, viu?!
Acho que vou parar por aqui hoje.Mas volto a falar com esse leão maldito.
Minha mágoa vai ficando cada vez maior. e o leão vai fivacando gordo e feliz.E eu acabo indo caçar leões sem culpa, na África.
Nenhum comentário:
Postar um comentário