quarta-feira, 25 de setembro de 2013

INTERROGUEM OS SUSPEITOS


Um excelente tema em excelente prosa.
Meu amigo Hilton Görresen, francisquense de primeira linda, cronista de excelente cepa.
Mila Ramos

 

Hilton Görresen

 

Na cena final do filme “Casablanca”, quando seu amigo atira no agente nazista, o chefe de polícia francês avisa para seus subordinados: interroguem os suspeitos habituais. A frase é de grande cinismo, significa que os policiais vão apenas satisfazer as exigências burocráticas, sem prender ninguém, um modo de proteger o verdadeiro culpado.

Nos romances de Conan Doyle ou de Agatha Crysthie os principais suspeitos nunca são os culpados, é apenas um estratagema para distrair nossa atenção e acrescentar mais umas páginas ao livro. O bandido é, geralmente, aquele que menos esperamos que seja.

Se a vida real transcorresse como nos romances policiais, poderíamos descartar de cara os maiores suspeitos. O sujeito foi encontrado ao lado do cadáver com a arma na mão? Descartem. O homem teve uma morte suspeita em casa e a jovem viúva recebeu uma enorme fortuna de seguro?  Descartem. O adolescente saiu com uma faca na mão à procura do desafeto, que mais tarde foi encontrado morto? Descartem. Talvez aquela inocente velhinha que mora na esquina seja uma perigosa assassina. Ou o gordo senhor que se faz de bondoso, indo diariamente à praça a fim de dar comida aos pássaros.

Mas na vida real, salvo poucas exceções, os crimes não são tão sofisticados, as situações são mais prosaicas, nem é necessário ter o poder de dedução de um Sherlock Holmes.

. Como dizem os franceses: “cherchez la femme” (procurem a mulher). Na maioria das vezes uma mulher foi a motivação do ato, o estopim do crime. Não é preconceito contra as categorias a seguir citadas, longe de mim, mas pelo que acompanhamos nos noticiários, quando acontece um crime, não há dúvidas: estupro e morte de menor? Interroguem os padrastos, os primos, os vizinhos. Assaltos na hora e ocasião certas? Interroguem os caseiros, os trabalhadores em obras no local, os ex-empregados. Morte de viciado em drogas? Interroguem traficantes ou distribuidores da mercadoria. Morte de mulher recém-separada? Interroguem o ex-marido. Morte de ganhador da megassena? Verifiquem se a viúva tem amante. Latrocínio de solteirão solitário: procurem os jovens “michês”.

Claro que assim a coisa perde a graça.  Mas foi por isso que Dashiel Hammet, escritor americano, tirou os crimes misteriosos das belas mansões inglesas e os trouxe para o mundo real, tirando dos leitores a emoção e o suspense pela elucidação de um caso complicado, resolvido pela argúcia e por dotes extraordinários dos velhos detetives.

 

 

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