terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ACONTECE COM VOCÊ?





                          Mila Ramos
             
 
Não sei se sou eu que sou azarada ou se isso é um mal do mundo moderno. Se  é mal do mundo moderno, lamento o quanto nosso mundinho está atrasado e ruim de aturar.
Desde menina sonhei em ter telefone, livros e um piano. Cada um tem o sonho que merece, e daí? Os meus eram estes.
Um piano na sala (e eu tocando, claro!), uma biblioteca cheinha de livros -  eu lendo - e um telefone tocando.
O telefone era o grande luxo da minha época de jovem, dos filmes, as mocinhas namorando, os escritórios onde os homens, sempre de terno e gravata, discutiam negócios e usavam um telefone preto enorme. Alguns ainda pediam uma ligação para alguém que não estava na cena; outros, mais modernos, tiravam o fone do gancho, discavam (havia um disco mesmo, lembram?) e falavam com quem queriam. Eu achava um luxo, só imaginado em sonho. E este era um dos meus, na infância.
Não demorou a realidade de um telefone, o de disco, principalmente.
O sonho dos livros, fui realizando aos poucos e, hoje, gosto de me sentir rodeada deles, alguns raros e amados, outros menos raros, mas igualmente importantes na minha vida.
O sonho do piano ficou no sonho mesmo. Durante anos estudei os métodos, cinco ao todo, nem sei se ainda se segue a mesma escola. Escalas e mais escalas e os “bifes” que eram o grande barato para brincar quando a professora estava longe – nas aulas do Colégio. Quando ela chegava, engrenávamos  um Le lac de Come, La Prière de une Vièrge, Mercado Persa, Danúbio Azul, Pour Elise e outras músicas próprias do quarto ano e que, naquela época, achávamos uma chatice.
Depois, noivado e casamento, casa nova sem piano e lá se foi o sonho do teclado.  
E agora, outro teclado na minha vida, o do telefone, mas como tem incomodado. Claro que não está acontecendo só comigo. São tantas as vezes que a gente precisa desse “bendito” durante o dia e ele negando fogo... Uma hora é  “o número discado não existe”, a gente sabe que existe, espera um pouquinho, dá um “redial”. Aí, o número existe e atende.. “Este número está desativado” ou “por ordem do assinante, este número...” aí a gente já bate o fone no gancho e nem deixa a gravação acabar... Liga outra vez. Aí, fica mudo. O jeito é esperar.
Neste momento, o meu sonho vai ficando longínquo como nos tempos em que a gente discava e o lado de lá atendia sem conversa e pronto.
Como se chama isso? Desilusão? Ah! É muito mais que isso! 
Acho que é coisa de país sub-desenvolvido! País de político desonesto que não aplica as verbas em obras para ficar com o dinheiro.
Coisa de país enganado por outros países que vendem um produto mas que podem deixar a gente mal servida porque não tem quem brigue por nós.
O nome disso é administração sem brio, falta de políticos com vontade e atraso.
Muito atraso.
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