terça-feira, 14 de janeiro de 2014

LIVROS RAROS

                                                             


                        Mila Ramos

Estou feliz porque tenho uma estante cheia de livros raros! Todos de ortografias vencidas pelo novo “des”acordo ortográfico, o que faz deles o que sempre procurei em sebos e o que guardei desde os tempos do colégio. Entre eles, os meus, editados há menos de vinte anos e outros que comprei no Natal. Todos muito importantes.
Um deles é uma gramática da FTD, dos anos 30, (alguém pediu para fazer uma pesquisa e não devolveu, alô alô!) onde dei os primeiros passos na combinação do predicado com o sujeito, ainda com Dona Ondina, em Tijucas.
Depois, no Ginásio, aqui em Joinville, a velha gramática ainda valeu até que Bechara  brilhou com o predicado nominal e o verbal, os adjuntos circunstanciais passaram a se chamar adnominais, o predicativo etc. etc. etc. e tal.
Enquanto isso, a ortografia ia e vinha, os acentos subiam e desciam e a gente tentava escrever da melhor maneira possível.
Agora, outra revolução!

 Mas tanto faz que os acentos tenham mudado, que o hífen tenha saído de alguma palavra e se mudado para outra, que o R e o S tenham dobrado aqui ou ali e que o trema tenha sido banido dos nossos escritos: meus livros continuarão raros e muito, muito especiais.
Meu livro de Cruz e Souza, presente de Dúnia de Freitas, foi editado em 43. Minha coleção da História da Civilização, de Will Durant, é de 46, meu Pequeno Príncipe, de S. Exupéry é de 63. Contos Minúsculos, de Borges de Garuva, xerocado e com autógrafo, de 87, meu Pé de Vento é de 85, meu Cem Anos de Solidão, GG Marquez, é da 34ª edição, do ano de 1967. Hei de preocupar-me com acentos por quê?  

Em 2015 ou 16, virá outra reforma ortográfica e nós teremos de decorar outras regras, mas os livros promovidos às prateleiras de nossas bibliotecas,  continuarão sagrados.
 Meus tesouros, muitos deles, são de edições que ultrapassaram reformas ortográficas e nem por isso deixei de lê-los e de guardá-los, assim como guardo, numa moldura, um guardanapo de papel desenhado com esferográfica e pincel atômico, um dos “linguarudos” do meu querido e saudoso Shwanke.
Quero mais é que todos leiam muitos livros de ontem, de hoje e de amanhã. E ainda é pouco, muito pouco!
Leiam todos os “velhos” livros da Biblioteca Pública, da biblioteca da escola, do vizinho, da minha, que está às ordens, estejam lá os acentos onde estiverem, porque nós continuaremos falando a língua de ontem, de hoje e de amanhã.

Pior, muito pior é ter uma geração que não lê, com ou sem acento.
           

José Mindlin, hoje falecido, e sua biblioteca invejável





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