Ele é ótimo.
Beba com ele e comigo.
Mila Ramos
Donald Malschitzky
Da Vinícola Concha y Toro, onde, num meio-dia de inverno ensolarado, tomamos um porre homérico, daqueles em que só se nota o tamanho do estrago quando se fica em pé, a garrafa – outra, aqui, que daquelas só a lembrança - aguarda ao lado do fogão o dia de seu conteúdo dar personalidade ao molho. Em seu fundo, fino espelho do vinho que sobrou do jantar daqueles que gostamos de fazer só para nós, com pouca variedade e muito carinho.
Mira-me a garrafa enquanto escrevo. Se fosse a Lili, nossos gatos, ou a Susi, a cachorra espalhafatosa que fala mais em seus silêncios, e não uma garrafa, tentaria decifrar seu olhar, mas é apenas um rótulo que parece observar-me.
E há olhares, muitos olhares no que restou no seu fundo. Na escolha da cepa, nos olhos no solo, no céu, na Cordilheira, ali, encostada e imponente, no clima, nos primeiros brotos e as parreiras a se espalharem no solo seco.
A cada ano, olhos nas folhas e na florada, a vinda das primeiras uvas, cachos bonitos, bagos pequenos e fortes, azuis, escuros. Merlot, vinda de Bordeaux, uva relativamente jovem, se comparada com seus parentes famosos e tradicionais. Polêmica a partir da melhor época para colheita que alguns especialistas dizem que tem de ser cedo e outros, o mais tarde possível.
Olhos no céu, no horizonte, no chão, assim são os dias de alegria e apreensão de quem decidiu transformar rubis em notas de convívio. Chuva demais, de menos, em época errada, frio extemporâneo, pouco sol ou calor demais; não precisa muita coisa para que das garrafas já não saia a mensagem sonhada por quem faz o vinho, nem a esperada por quem a abre. Acaba sendo uma companhia daquelas que se aceita, mas esperava ser bem melhor.
E há os anos em que todos os dias pintam estrelas nas íris e tudo dá certo. Nesses anos, quando inicia a colheita, o vinicultor sabe que o melhor de seus desejos será colhido e amassado e fermentado e deixado descansar e engarrafado e aguardado com ansiedade para somente ser sorvido na hora certa.
E sabe que vai fazer o que quem faz vinhos mais espera: compartilhar. Compartilhar com amigos, amados e pessoas que nunca viu nem verá, mas que, através do rubi engarrafado, formam liames e laços, como se fora outrora em lagares.
Acho que exagerei: é apenas um resto de vinho no fundo de uma garrafa. Serve para quase nada. Mas conta cada história!
Da Vinícola Concha y Toro, onde, num meio-dia de inverno ensolarado, tomamos um porre homérico, daqueles em que só se nota o tamanho do estrago quando se fica em pé, a garrafa – outra, aqui, que daquelas só a lembrança - aguarda ao lado do fogão o dia de seu conteúdo dar personalidade ao molho. Em seu fundo, fino espelho do vinho que sobrou do jantar daqueles que gostamos de fazer só para nós, com pouca variedade e muito carinho.
Mira-me a garrafa enquanto escrevo. Se fosse a Lili ou o Zel, nossos gatos, ou a Susi, a cachorra espalhafatosa que fala mais em seus silêncios, e não uma garrafa, tentaria decifrar seu olhar, mas é apenas um rótulo que parece observar-me.
E há olhares, muitos olhares no que restou no seu fundo. Na escolha da cepa, nos olhos no solo, no céu, na Cordilheira, ali, encostada e imponente, no clima, nos primeiros brotos e as parreiras a se espalharem no solo seco.
A cada ano, olhos nas folhas e na florada, a vinda das primeiras uvas, cachos bonitos, bagos pequenos e fortes, azuis, escuros. Merlot, vinda de Bordeaux, uva relativamente jovem, se comparada com seus parentes famosos e tradicionais. Polêmica a partir da melhor época para colheita que alguns especialistas dizem que tem de ser cedo e outros, o mais tarde possível.
Olhos no céu, no horizonte, no chão, assim são os dias de alegria e apreensão de quem decidiu transformar rubis em notas de convívio. Chuva demais, de menos, em época errada, frio extemporâneo, pouco sol ou calor demais; não precisa muita coisa para que das garrafas já não saia a mensagem sonhada por quem faz o vinho, nem a esperada por quem a abre. Acaba sendo uma companhia daquelas que se aceita, mas esperava ser bem melhor.
E há os anos em que todos os dias pintam estrelas nas íris e tudo dá certo. Nesses anos, quando inicia a colheita, o vinicultor sabe que o melhor de seus desejos será colhido e amassado e fermentado e deixado descansar e engarrafado e aguardado com ansiedade para somente ser sorvido na hora certa.
E sabe que vai fazer o que quem faz vinhos mais espera: compartilhar. Compartilhar com amigos, amados e pessoas que nunca viu nem verá, mas que, através do rubi engarrafado, formam liames e laços, como se fora outrora em lagares.
Acho que exagerei: é apenas um resto de vinho no fundo de uma garrafa. Serve para quase nada. Mas conta cada história!
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