riojaneiro2

O assunto agora são as eleições, os candidatos, os debates entre candidatos, tudo o que o povo parece ignorar ou desprezar seja porque a desilusão com os políticos é geral, seja porque o nosso sistema eleitoral está esgotado e desacreditado, ou porque as reformas mais necessárias não constam dos programas ou das promessas vãs dos que aspiram ao poder ou pretendem nele se perpetuar. Os arranjos, os conluios, as coligações espúrias e meramente eleitoreiras, os gastos enormes e inúteis com propaganda, viagens, eventos, comícios, tudo isso nos faz ter vontade de escapar para o mundo da imaginação e da fantasia, para “um outro mundo possível”, o da utopia. Nesse, os nossos representantes nos representariam de verdade, cada comunidade, cada bairro, cada aldeia e cada cidade teria voz e voto. Não haveria partidos, mas conselhos, conselhos de professores e de estudantes, sim, de estudantes para que pudessem expressar as suas aspirações e os seus temores, seus desejos e suas reivindicações; conselhos de médicos e de todos os tipos de terapeutas; conselhos de ecologistas e de urbanistas... Nesse, a defesa da natureza e a organização das cidades seriam as preocupações de todos e a principal meta da Economia. Nesse, a injusta desigualdade seria crime e a solidariedade seria lei ensinada nas escolas desde os jardins de infância. E os criminosos seriam tratados em clínicas especializadas tanto em recuperação psicológica quanto em reeducação social. Ah! como é bom se deixar levar pelas asas do desejo ou do sonho com um país e com um mundo menos corrupto e menos previsível. Como é bom imaginar para o Brasil, já que estamos na era tecnológica por excelência, que poderíamos multiplicar clones dos melhores políticos, clones inumeráveis de Pedro Simon, por exemplo, ou de Cristovam Buarque, incorruptíveis como o primeiro e heroicos quixotes defensores da educação, como o segundo que, infelizmente parece falar sozinho para uma nação grandiosa e terrível, tão rica e tão pobre pois ocupamos o triste 8º lugar entre os países com o maior número de analfabetos e o vergonhoso 79º lugar no ranking mundial de desenvolvimento humano.

A realidade é avassaladora: “Quatro PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho foram presos (...) sob a acusação de terem violentado duas mulheres e uma adolescente.” – Notícia do Globo de 7 de agosto. Quando a Polícia Pacificadora é formada por elementos capazes desse tipo de crime, que mais podemos esperar? Que país é esse? E há mais notícias semelhantes: “Jovem de classe média, acusado de abusos sexuais está foragido” e “PM reforça patrulhamento na Vista Chinesa onde mulher foi violentada”... Essas são ocorrências divulgadas, mas há centenas de outras que não chegam aos jornais. E quais são os nossos candidatos aos cargos públicos que se comprometem a encarar esse problema, por exemplo?

Quando diante da campanha eleitoral preferimos nos refugiar no sonho e na fantasia é porque a realidade social e política tornou-se insuportável.