Por
Percival Puggina.
Artigo publicado em 14.09.2014
Artigo publicado em 14.09.2014
Prezado Aécio,
Sou
um dos 100% Aécio, cujos nomes são destacados na página da tua campanha que
divulga o apoio de intelectuais. Por isso, contemplando a hipótese de que venhas
a ler, tomo a liberdade de escrever o que penso sobre esta esquina onde nos
encontramos na história da República.
Há
uma parcela imensa da sociedade brasileira perfeitamente consciente de que o
problema do Brasil não é Lula e não é Dilma. O problema do Brasil, sabemos nós,
é o Partido dos Trabalhadores, com seus métodos, seu projeto totalitário de
poder, sua turbada visão de história, suas más companhias internas e externas,
sua ideologia malsã e seu reacionarismo econômico. O problema do Brasil é a
oficialização dessa moral que parece abastecida em lojinha de conveniência, onde
a cada momento é selecionado o princípio que convém, dispensados os demais nos
reservatórios de lixo seletivo. É o governo de um partido que abraça a Petrobras
com afagos de quem lhe bate a carteira.
Seu
principal adversário ao longo dos últimos 12 anos, Aécio, é um partido que faz
mal ao Brasil. Na oposição, não deixa governar; no governo, não governa. Na
oposição, a quilômetros de distância, brada contra odores nos atos do governo;
no governo, não percebe a sujeira colada à sola do próprio sapato.
Fosse
você, Aécio, eu diria à sua principal adversária que o governo petista acabou. E
não acabou agora, mas há seis anos. Acabou na metade do segundo governo Lula,
quando se esgotou o estoque de mágicas na cartola das facilidades e o Brasil
começou a desacelerar, a parar e, já agora, a declinar. Eu diria que o PT já fez
o pouco bem que podia e todo o mal que podíamos tolerar. O PT, enfim, já era.
Foi rareando o que nele havia de bom e aflorando, dominante, tudo que nele havia
de mau. O pouco que ainda resta de valor no partido não compensa tudo que nele
não presta. Só não vê isso quem não quer.
Trata-se
de um terrível problema moral. Ele não está no fato de que o PT transforma
bandidos em heróis, mas no fato de que parcela imensa da população nacional já
não mais distingue um tipo de outro. E o nome disso já não é pura e simples
corrupção, mas é corrupção da alma brasileira, onde muitos entram em confusão
mental, ou em conflitos de interesse, nas encruzilhadas do certo com o
errado.
Pense
sobre isso, Aécio. Você é a terceira geração de políticos do PSDB aos quais
parcela importante do povo brasileiro confia a bandeira oposicionista. Você
enfrenta um adversário fragilizado, combalido pelos motivos que expus. Mas
precisa evitar, com ajustes de discurso, que os bons brasileiros migrem votos
para quem nunca teve e ainda não tem palavras de reprovação aos malefícios em
curso no país. Isso, simplesmente, não faz sentido.
*
Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de
dezenas de jornais e sites no país
Nenhum comentário:
Postar um comentário